quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

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Metade

Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo em que acredito não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
A outra metade é silêncio


Que a música que ouço ao longe seja linda ainda que tristeza
Que a "pessoa" que amo seja para sempre amada mesmo que distante
Pois metade de mim é partida
A outra metade é saudade 


Que as palavras que falo não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Pois metade de mim é o que ouço
A outra metade é o que calo


Que a minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que mereço
Que a tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que penso
A outra metade um vulcão


Que o medo da solidão se afaste e o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
Que o espelho reflita meu rosto num doce sorriso que me lembro ter dado na infância
Pois metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade não sei


Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito 
E que o seu silêncio me fale cada vez mais
Pois metade de mim é abrigo
A outra metade é cansaço


Que a arte me aponte uma resposta mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar pois é preciso simplicidade para fazê-la florescer
Pois metade de mim é plateia
A outra metade é canção


Que a minha loucura seja perdoada
Pois metade de mim é amor
E a outra metade também 


Oswaldo Montenegro




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